quarta-feira, 22 de setembro de 2010

III CICLO

Livro lido: O pequeno papa sonhos

Transformação: O PEQUENO TIRA SONO



  No país dos acordados a coisa mais importante era ficar acordado, por isso, o país tem esse nome. Mas o que importa não é quando ou por quanto tempo as pessoas ficam acordadas, importa se elas se sentem bem em não dormir, isso faz a diferença: quem se sente bem – pensam os habitantes do país dos acordados – tem mais tempo para realizar as tarefas do dia-a-dia e consegue ter uma mente clara.  Assim, aquele que consegue ficar mais tempo sem dormir e tem uma mente bastante clara, torna-se rei.
Uma vez houve um rei que tinha uma filha chamada Acordadinha. Esse era um belo nome e ela era uma linda criança. Todos que a viam tinham que admitir isso. Ela vivia com seu pai e sua mãe no Castelo dos Acordados.
Quando anoitecia, ela ia para seu quarto que embora não tivesse cama, tinha muitos livros, bonecas e uma cadeira branca como a neve, lá ela não dormia e ficava lendo muito. Mas de uma hora para outra a princesinha passou a recusar-se a ficar acordada e arranjava sempre uma desculpa pra ir ao quarto de visitas, pois era o único em que havia uma cama velha e pouco usada; os outros quartos eram só um lugar pra se ter privacidade. O seu próprio cantinho. A princesa queria dormir, pois seu corpo estava muito cansado.
_É uma vergonha! Diziam as pessoas, sacudiam as cabeças preocupadas e já não ficavam acordados tão bem como antes.
A princesinha ficava cada vez mais pálida e magra, precisava dormir.
_O quê podemos fazer? Suspirava a rainha. _Só podemos esperar que o sono da princesa não volte!  Mas ele sempre voltava...Então, o rei convocou todos os médicos e sábios do país. Eles se puseram em volta da princesa e falaram umas coisas em latim e deram um monte de remédios. De nada adiantou. O rei mandou mensageiros aos outros países e interrogaram os velhos pastores e marujos, mas ninguém sabia uma solução. Então o rei mandou espalhar cartazes por toda a parte e publicou anúncios nos jornais oferecendo àquele que conseguisse curar a princesinha, uma grande recompensa. Ninguém se apresentou.
_Eu mesmo vou descobrir a cura. Disse o rei um dia.
_ Isso mesmo! Respondeu a rainha toda esperançosa.
A rainha preparou tudo, passou à ferro a roupa de viagem que há muito tempo o rei não usava. Preparou-lhe uma mochila com provisões e o rei saiu pelo mundo a fora. No caminho perguntava a todos que encontrava: ferroviários, bombeiros, professores, operários, taxistas, verdureiros...Perguntou a ‘cowboys’, esquimós, crianças, negros, chineses e velhos, mas não encontrou uma única pessoa que conhecesse um remédio para tirar o sono da princesinha.
Quando já estava cansado e desanimado.  Não sabia mais a quem procurar e não podia voltar pra casa de mãos abanando, pois a rainha já tinha tentado até café e a princesinha não acordou. Ele andava sem prestar atenção ao caminho que se tornava cada vez mais escuro porque a noite vinha chegando e soprava um vento muito gelado. A neve começara a cair e ele nem havia percebido que o inverno tinha chegado. Viu-se perdido em frente a uma enorme charneca. As árvores cobertas de neve pareciam figuras hostis, mas o rei estava cansado demais para sentir medo.  Foi então que ele viu, bem longe, entre as árvores, alguma coisa que brilhava e piscava. Parecia um raiozinho de luar. Saltava em todas as direções e tão rápido que mal se podia acompanhar com os olhos. O rei aproximou-se e viu aquele ser pequenino, com grandes braços e pernas e uma cabeça cheia de espinhos. Como um ouriço! Era um homenzinho e ele fitou o rei com olhos brilhantes como estralas e fez mil ruguinhas engraçadas no rosto como se estivesse pensando. Sua enorme boca era como o bico de um passarinho que abria e fechava gritando: 
_Ah! Quem vai me convidar?  Dizia com sua vozinha estridente. _Estou com uma fome terrível e se ninguém me convidar vou ter de comer a mim mesmo!
_Estou procurando alguém que possa salvar minha filha. Que possa livra-la de sua vontade de dormir. Respondeu o rei.
_Viva! O homenzinho feito de luar deu um salto e, de repente, tornou-se muito amável. _ Viva! Quer dizer que vou ter coisas gostosas para comer? Fui convidado! Fui convidado!
E continuou:
_Rápido, dê-me seu casaco, suas botas e preciso também do seu cajado para eu poder ir ao lugar de onde partiu o convite.
O rei estava tão cansado e espantado que foi dando tudo a ele sem fazer o menor gesto de defesa.
_ O que está pensando? Que eu vou levar as suas coisas e pronto é? Vou mesmo, mas não sou nenhum ladrão; todos vão sair ganhando. Você, sua filha e, principalmente, EU! O Tira Sono!
_ Eu estou perdido, diga-me, por favor, como poderei sair daqui desse lugar.
_Ninguém sai daqui a não ser comigo e eu só saio quando sou convidado para comer!
O rei olhou para sua mochila de provisões e viu que estava vazia.
_Infelizmente não tenho nada para dar a você. Disse o rei. _Se tivesse lhe daria um pão com manteiga.
_Credo! Que horror! Gritou o homenzinho com maus modos. _Estou pouco ligando pra esse tipo de coisas. Pelo jeito você não sabe do que eu gosto! Não me conhece, hein?
Então o homenzinho deu um assobio e estalou a língua e antes que o rei tivesse tempo de dizer: “_Como?” o homenzinho tinha transformado as coisas todas. O casaca em um grande e bela folha, o cajado em uma pena de escrever e as botas em um gigantesco tinteiro. O Homenzinho molhou a pena na tinta e começou a escrever.

“Papa Sono te convido
Traz a faquinha de chifre e o garfinho de vidro,
Prepara a tua pança
Vem aqui comer o sono que incomoda a criança”.

Então ele enrolou o papel e entregou ao rei.
_Agora corra até a princesa Acordadinha e diga-lhe para recitar o encantamento. Já, já vou ter um suculento travesseiro em minha pança, pois este é o presente que recebo quando como o sono de alguém. Estou com água na boca!!! Ande logo!
_Você sabe que andei muito até chegar aqui – disse o rei perturbado- meu castelo fica do outro lado do mundo e vou levar muito tempo até chegar onde está minha filha Acordadinha!
_Ora, Ora, Ora, como vocês seres humanos reclamam de tudo, são muito aborrecidos! Eu só posso sair daqui quando alguém me convidar pra comer seu travesseiro, ops, quero dizer, me convidar com o encantamento.
_E o que é que agente faz então? Perguntou o rei desanimado.
_Sabe o quê? Você vai recitar o encantamento no lugar da sua filha e me convidar! Disse sorrindo o homenzinho.
_Vamos ver se vai dar certo...
_Isso recite logo o encantamento!

O homenzinho tirou a faquinha de chifre e o garfinho de vidro e ficou em posição de largada, como um atleta,  aguardando o rei começar a ler.
O rei já ia começar a ler quando lembrou de mais uma coisa e disse:
_Se você for embora o que vai ser de mim, eu nunca vou conseguir sair desse lugar esquisito e achar o meu caminho de casa. Estou sem meu casaco e minhas botas, será que vou morrer de frio?
_Diabos! Resmungou o homenzinho. _Vocês homens só sabem criar problemas! Suba logo aí nas minhas costas que eu vou te levar.
O rei era muito pesado, mas subiu nas costas do homenzinho e tomando cuidado para não se espetar. Então começou a ler o encantamento, mal ele terminou a última linha, o Tira-sono disparou em uma tal velocidade que o mundo parecia voar embaixo deles.
_Está vendo? Deu certo! Diga-me... gaguejou o rei assustado. _Você devora, quer dizer você gosta de comer travesseiros?
ZUUUUMMMMM! E já estavam passando pelo pólo Norte.
_Na verdade, eu como os travesseiros mas o que me alimenta mesmo é o sono que tiro das pessoas quando elas deitam no travesseiro.
_Mas minha filha não tem travesseiro! Afinal, lá é o Reino dos Acordados! Ah, mas ele tem sua cadeira com uma linda almofada rosa pink!
_Está bem, pode ser isso!
E ZUUUUUMMMM! O mundo voltou a ficar parado. O rei olhou em volta  e viu que estava sentado no chão do quarto de sua filha. A rainha estava lá ao lado da princesa. As duas olhavam com olhos arregalados.
_Consegui! Gritou o rei e mostrou-lhes o encantamento.
Os três se abraçaram cheios de alegria. Agora toda vez que anoitecia a princesa lia o encantamento e, ao invés de dormir, ela lia seus contos de fadas. Ela nunca mais teve sono. O rei mandou escrever o encantamento e toda essa história em um livro para que todas as crianças conseguissem ficar acordadas.
Assim todos ficaram protegidos e bem acordados e tudo voltou ao normal.




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